Análise | The Boys: 4ª episódio da 3ª temporada, 'Glorious Five Year Plan'

Dildos, hamsters, traições, renascimentos e derramamento de sangue – a cada episódio, produção vai ainda mais longe.

A série segue trazendo cenas verdadeiramente impressionantes e ultrajantes. Foto: Divulgação / Amazon
A série segue trazendo cenas verdadeiramente impressionantes e ultrajantes. Foto: Divulgação / Amazon
Carol Souza
Por Carol Souza

Atenção: Esta análise contém Spoilers. Entre a abertura da terceira temporada de “The Boys” com Cupim explodindo graficamente através do pênis de seu amante, o iminente “Herogasm” no episódio 6 e a morte por vibradores no recém-lançado “Glorious Five Year Plan”, o showrunner Eric Kripke está deixando cada vez mais claro que “limite” não é o seu forte. O que mais esperávamos de um show que continuamente tenta se superar? Como o departamento de marketing da Vought International diria, sexo vende – e como Trash de “A Volta dos Mortos-Vivos” diria, sexo e morte são ainda melhores. “The Boys” ainda não decepcionou no que diz respeito a encontrar maneiras novas e criativas de misturar prazer e punição. Sendo assim, bem-vindo a mais um episódio do programa de super-heróis mais obscenamente divertido do Prime Video.

Neste novo episódio há histórias a se destacar mais significativas do que somente a bizarra carnificina protagonizada por brinquedos sexuais. Quaisquer hesitações que você possa ter sobre o fato de Butcher (Karl Urban) estar voltando a ser aquele cara completamente sem escrúpulos e cujo objetivo é somente a busca por vingança, os personagens ao seu redor compensam ao elevar as subtramas em andamento. Kimiko (Karen Fukuhara) chega a uma conclusão angustiante quando Butcher a escala para um trabalho tratando-a como um animal enjaulado. Hughie (Jack Quaid) cria um enorme conflito moral enquanto experimenta um poder ilimitado pela primeira vez em sua vida. Conseguimos sentir o esforço de M.M. (Laz Alonso) tentando manter os Butcher's Boys juntos apesar dos melhores (ou piores) esforços de seu líder implacável.

A equipe de roteiristas de Kripke está fazendo um trabalho esplêndido encontrando mais camadas e sentimentos humanos nos personagens para explorar em tela.

A maior reclamação até agora sobre “The Boys” por parte daqueles que ainda relutam contra a quantidade mostrada de violência e seu conteúdo “sem limites” é seu foco em uma narrativa mais gráfica, por assim dizer, do que sombria. “Glorious Five Year Plan” não vai exatamente contra as reclamações, pois há a cena de um hamster superpoderoso atacando um guarda russo de uma maneira que vai te fazer no mínimo, franzir a testa em desconforto – sendo esta a participação especial de Jamie, um aceno aos fãs –, além de chefes do submundo do crime sendo empalados por um dildo temático do Black Noir (Nathan Mitchell). A diferença aqui, e o que “The Boys” vem melhorando a cada episódio, é que ele enfatiza as consequências dos ataques violentos e as respostas emocionais trazidas pelas carnificinas protagonizadas e presenciadas pelos personagens até aqui. Algo a se destacar são as reações de Starlight (Erin Moriarty), Hughie e Kimiko quando confrontados com mais uma morte – gerando uma bagunça mental, ou até mesmo uma epifania, diferente em cada um.

“The Boys” se afirma como muito mais do que uma apenas uma exibição gratuita de atos bárbaros e violência aleatória realizados pelos anti-heróis mais sádicos do mundo, o que adiciona um elemento de maior profundidade à terceira temporada que não era tão proeminente até agora.

Homelander (Antony Starr), enquanto isso, continua seu desfile de depravação como um dos maiores e mais carismáticos vilões da televisão moderna. Starr entrega com sua interpretação, uma divindade intocável com um sorriso egocêntrico que deixaria Freddy Krueger nervoso, e a dinâmica muda ainda mais magnificamente quando num plot completamente imprevisível, Stan Edgar (Giancarlo Esposito) finalmente se queima. A aquisição hostil de Homelander da Vought International através da manipulação de Victoria Neuman (Claudia Doumit) é, nas próprias palavras de Butcher, “diabólica”. Ninguém consegue ser tão diabólico quanto Starr é agora. O ator consegue invocar medo em qualquer situação em que apareça, seja com Homelander “castrando” Hughie ao usar a popularidade de Starlight em um relacionamento publicitário ou com Homelander se tornando o ditador de fato dos Sete. “Glorious Five Year Plan” é uma bomba, e não acho que estamos prontos para as ramificações.

Homelander continua seu desfile de depravação na 3ª temporada de The Boys. Foto: Reprodução/YouTube
Homelander continua seu desfile de depravação na 3ª temporada de The Boys. Foto: Reprodução/YouTube
Homelander continua seu desfile de depravação na 3ª temporada de The Boys. Foto: Reprodução/YouTube

Entretanto há de se reconhecer a atuação irretocável de Giancarlo Esposito agindo contra o papel dominante do Homelander de Starr. Poucos atores poderiam igualar a qualidade digna de Emmy que Starr traz semana após semana. Homelander e Edgar trocam golpes psicológicos na sala de reuniões da Vought Tower, a mais fria batalha mental que já vimos em uma rivalidade já notável entre os dois pilares da Vought. Edgar ainda é o mais frio na sala, mesmo diante de todas as ameaças físicas que somente a presença de Homelander já pode representar. Eu sinceramente espero que a investigação iniciada por Homelander não diminua as aparições de Edgar porque Esposito é uma das armas mais poderosas da série.

Mas claro, “The Boys” ainda estaria bem e sem maiores riscos de danos à trama se isso ocorrer. Tanto Os Sete quanto os The Boys estão em frangalhos sob comando de Homelander e Butcher. “Glorious Five Year Plan” vem pra romper de vez as relações entre a equipe de Butcher, algo que M.M. adverte poder ser irreparável, enquanto Starlight e Queen Maeve (Dominique McElligott) se preparam para um motim com a ajuda da arma secreta de Butcher, na qual eles ainda não conseguiram colocar as mãos. Personagens suportam torturas de esmagar a alma, têm seus fracassos esfregados em seus rostos, são levantados e depois jogados de volta ao chão – e mesmo assim, “The Boys” não é sobre desesperança. É incrível como este último episódio consegue elevar a tensão de forma tão agressiva, além de trazer a promessa de que ambos os lados lutarão até que não haja mais nada a perder. Hughie por Starlight, Starlight por Hughie, Butcher por Ryan, Frenchie por Kimiko, Homelander por ele mesmo, The Deep (Chace Crawford) por seu lugar nos Sete, A-Train (Jessie T. Usher) por seu pseudoativismo oportunista — Kripke segue, episódio por episódio, colocando cada vez mais pressão sobre o barril de pólvora, que já está com os parafusos estourando.

“Glorious Five Year Plan” é o melhor dos dois mundos quando se trata de “The Boys” e de como adaptar a história em quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson. O trabalho de desenvolvimento do V24 é bastante convincente quando trata dos prós – e contras – do alcance de Butcher aos superpoderes. Homelander continua seus paralelos trumpianos vermelhos, travando uma guerra contra a imprensa livre, já que os comentários só promovem protestos contra a toxicidade que infectou o “sonho americano” e em breve nos depararemos com as consequências das ações de Butcher ao libertar um “certo alguém” de seu sono criogênico.

Esses são os “The Boys” que conhecemos e amamos: com vocabulários condenáveis, implacavelmente brutais, chocantemente rudes das melhores maneiras – e sem sinais de parar.  

Sobre o autor

Carol Souza
Carol SouzaAmante do cinema, dos livros e apaixonadíssima pelo bom e velho rock n'roll. Amo escrever e escrevo sobre o que amo. Ativista da causa feminista e bebedora de café profissional. Instagram: @barbooosa.carol
Fale com o autor: [email protected]
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