Análise | 'Thor: Amor e Trovão': Taika Waititi fez de novo

Diretor repete fórmula cheia de humor e consegue encantar o público – ou ao menos alguns fãs – novamente.

'Thor: Amor e Trovão' é uma aventura divertida, colorida e emocionante ao mesmo tempo.
'Thor: Amor e Trovão' é uma aventura divertida, colorida e emocionante ao mesmo tempo.
Carol Souza
Por Carol Souza

Thor: Amor e Trovão” acaba de aterrissar nos cinemas brasileiros para o público em geral e mesmo após muitas críticas negativas, principalmente entre canais no YouTube, pode-se dizer que a nova aposta do MCU não é essa decepção toda de que ouvimos falar.

Taika Waititi aposta novamente no humor para retratar o deus do Trovão em sua jornada rumo ao autoconhecimento e mesmo que esse humor “se passe” em alguns momentos, ele não é suficiente para estragar a experiência como muitos afirmaram que poderia ocorrer. Existe sim um certo exagero, e podemos destacar a dupla de cabras gigantes cujo grito pode te fazer desejar que elas não tivessem sido inseridas no roteiro em um primeiro momento, mas que consegue se “justificar” de certa forma em sua única grande cena, onde o berro como prelúdio funciona perfeitamente.

O humor também funciona enquanto ferramenta para o desenvolvimento da trama de Jane Foster, a Poderosa Thor, que mesmo gravemente doente, tem no humor – vista sua seriedade nos primeiros dois filmes da franquia – uma forma de acrescentar leveza ao seu fatídico e aparentemente inevitável destino.

Natalie Portman como Poderosa Thor em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Natalie Portman como Poderosa Thor em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Natalie Portman como Poderosa Thor em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.

E por falar em Jane, outro núcleo que convence ao se apresentar de uma forma bastante orgânica e crível é a relação de irmandade entre ela e Valquíria, que diante do que até então parecia ser um segredo, nos mostram uma cumplicidade e parceria que é facilmente encontrada em relações reais entre mulheres.

Apesar desta relação de amizade e empatia, Valquíria merecia mais tempo de tela. Neste ponto o longa peca em não dar o devido destaque a Rei de Nova Asgard. Tessa Thompson brilha ao retratar toda a ferocidade da personagem, ao mesmo tempo que deixa clara em seus poucos momentos de maior abertura sobre seu passado, a origem de toda esta raiva e agressividade.

Cumplicidade entre Valquíria e Jane é um dos destaques do longa. Foto: Reprodução/YouTube.
Cumplicidade entre Valquíria e Jane é um dos destaques do longa. Foto: Reprodução/YouTube.
Cumplicidade entre Valquíria e Jane é um dos destaques do longa. Foto: Reprodução/YouTube.

Em uma cena com o vilão Gorr, Valquíria parece não suportar o peso da armadura de “durona” e ao ser confrontada com seu passado, não consegue e nem parece querer conseguir conter as lágrimas que as dolorosas lembranças lhe trazem e devo dizer: é uma cena surpreendente. Ponto positivo também para a representatividade trazida pela personagem que não esconde sua sexualidade e a expressa de forma natural, como deve ser, sempre que pode.

O mesmo acontece com o personagem de Waititi, Korg, que conta sua história de origem de forma rápida e que fecha seu ciclo na trama com um namorado de bigode de pedra, fazendo um bebê da forma mais improvável possível.

Agora vamos ao vilão: Gorr. Christian Bale foi muito aguardado, várias teorias foram criadas, e bem...

Como quase tudo em “Thor: Amor e Trovão”, Bale teve seus altos e baixos na produção e houveram momentos em que Gorr chegou a se assemelhar ao Coringa de Jared Leto com um riso forçado, que causa aquela sensação de vergonha alheia que conhecemos bem. Entretanto, se Bale esteve caricato em algumas cenas, sua atuação nas cenas iniciais é tudo o que queríamos ver e um pouco mais. Antes de se tornar o Carniceiro dos Deuses, Gorr passa por duas perdas, a de sua filha e a de sua fé, e são estes os momentos nos quais podemos ver toda a experiência dramática de Bale que nos faz sentir junto com o personagem todo o vazio e todo o ódio que crescerão dentro dele.

Christian Bale como Gorr em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Christian Bale como Gorr em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Christian Bale como Gorr em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.

Participações especiais no longa são como grãos de areia na praia. Os Guardiões da Galáxia estão aqui, dando o contexto das “Aventuras Clássicas de Thor” antes da separação de Odinson do grupo para lidar com a nova ameaça, que foi anunciada através de outra participação especial, a de Lady Sif, que ao tentar conter Gorr acaba por perder um braço na batalha – e aqui somos introduzidos à crença viking de Valhalla pela primeira vez, que sim, é importante apesar de não parecer.

Temos também o retorno de Matt Damon e Luke Hemsworth como os atores do teatro de Nova Asgard contando aos turistas a história que nos foi apresentada em “Thor: Ragnarok”, adicionando ainda Melissa McCarthy à fórmula, no papel da irmã do mal, Hela. Toda a prole Hemsworth está aqui, bem como os filhos de Natalie Portman, Taika Waititi e outros membros da produção, o que nos dá aquele quentinho no coração além de elevar à milésima potência a nossa satisfação ao ver o grupo de crianças adquirindo – por tempo limitado, como faz questão de destacar Thor – os poderes do deus do Trovão a fim de enfrentarem os monstros das sombras de Gorr.

Russel Crowe vive Zeus e claramente se diverte no papel. Como não destacar o momento em que o vemos descer os degraus de sua enorme plataforma divina segurando sua saia com as pontas dos dedos? Se nós, expectadores, soltamos gargalhadas ao ver o deus mais poderoso da mitologia grega se preocupando com a barra de sua mini saia, sentados na cadeira dos cinemas, imagine durante as gravações? E mesmo que por um momento fiquemos chocados com sua última aparição dentro do filme, um choque maior ainda nos aguarda nas cenas pós-créditos.

Russel Crowe é Zeus em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Russel Crowe é Zeus em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.
Russel Crowe é Zeus em 'Thor: Amor e Trovão'. Foto: Reprodução/YouTube.

Algo que me surpreendeu foi a sacada de Waititi em nos fazer acreditar por meses que o título do longa fazia referência ao romance entre Jane e Thor, quando nos últimos segundos da última cena, é quase possível ouvir em uníssono as mentes dos expectadores nas cadeiras a pensar: “ah, então é isso!”. Para mim, o filme se transformou completamente neste momento.

E se você conferiu o artigo que publicamos sobre as 10 teorias que você precisava ler antes de ir ao cinema (leia aqui), você vai comemorar junto comigo a confirmação de uma delas no primeiro pós-credito (e é aqui que o maior choque com Zeus entra), entender as referências sobre Valhalla durante o filme e celebrar o (talvez?) retorno de um amado personagem que não merecia o final que teve lá atrás, em “Guerra Infinita” – não, não é o Loki – e que teorizo aqui, pode vir a ganhar uma produção que explore melhor o “céu dos vikings”.

Um bônus bacana pra quem é assinante do Disney+ e conferiu a série de curtas de Thor na plataforma, é a inclusão do personagem Darryl na trama, mesmo que de forma breve. Um easter-egg que mostra mais uma vez que no MCU, tudo está realmente interligado.

Com 1h59 de duração, sendo relativamente mais curto do que as últimas produções da Marvel, “Thor: Amor e Trovão” é uma muito bem-humorada surpresa após todo o terror e drama de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, uma homenagem ao Guns n’Roses e uma confirmação de que a veia cômica de Chris Hemsworth cai como um martelo – ou machado, desculpe Stormbreaker! - nas mãos deste novo Thor que vive agora sua nova, mais temperamental, poderosa, respondona e fofa missão.

Sobre o autor

Carol Souza
Carol SouzaAmante do cinema, dos livros e apaixonadíssima pelo bom e velho rock n'roll. Amo escrever e escrevo sobre o que amo. Ativista da causa feminista e bebedora de café profissional. Instagram: @barbooosa.carol
Fale com o autor: [email protected]
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