Análise | The Boys: Sobre pais, filhos e família; Uma conclusão de tirar o fôlego

A produção provou até a 'season finale' que sabe exatamente o que está fazendo

Oitavo episódio da temporada 'fecha' ciclos mas não por completo, e nos dá o prelúdio do que esperar da temporada seguinte. Foto: Reprodução/YouTube.
Oitavo episódio da temporada 'fecha' ciclos mas não por completo, e nos dá o prelúdio do que esperar da temporada seguinte. Foto: Reprodução/YouTube.
Carol Souza
Por Carol Souza

Chegamos ao fim de uma gloriosa jornada. Nesta quinta (7) o Prime Video disponibilizou o último episódio da terceira temporada de “The Boys” e que final! A produção provou até esta “season finale” que sabe muito bem o que faz e nos apresentou uma conclusão à altura de toda a temporada.

Digo “conclusão”, pois com a quarta temporada já confirmada, os ganchos deixados pela série para a temporada seguinte são de cair o queixo. De fato, esta é nossa reação durante todo o episódio e a cada reviravolta nos vemos mais envolvidos e mais chocados – porque este é o jeitinho “The Boys” de ser.

Neste oitavo e último episódio seguimos com o tema familiar ainda mais forte, pois agora que Capitão Pátria e Soldier Boy sabem de sua ligação de sangue, a paternidade é bastante discutida, tanto por Francês e Kimiko quando ela precisa lembra-lo de que a relação dele com o pai não define quem ele é, como com Leitinho e Janine quando ele revela suas fraquezas à filha por consequência de seu descontrole para com o padrasto da menina no episódio passado, passando por Bruto e Soldier Boy que, durante uma conversa, falam sobre seus próprios pais e revelam até mesmo uma semelhança na forma em que foram criados e tratados pelos mesmos, o que nos faz entender o “resultado” atual de ambos em reagirem com extrema violência a todas as situações, mesmo quando a intenção é proteger, e finalmente chegando ao Capitão Pátria, que ajudado por Neuman, encontra Ryan e Grace e ao contrário do último encontro de Bruto com o menino, o acolhe e isenta da responsabilidade da morte tanto de Becca como (de certa forma) de Tempesta, ganhando o amor e fidelidade do pequeno super.

Confirmando a teoria que apresentamos na nossa última análise (leia aqui), Pátria decide por tentar usar Ryan para unir a “família” e iniciar um tipo de clã super poderoso imbatível composto por pai, filho e avô, incluindo o uso da palavra por Ryan em seu primeiro encontro com Soldier Boy nesta tentativa, algo que nos deixa apreensivos sobre se o veterano, que já demonstrava alguns sinais de que poderia quebrar o acordo com Bruto, poderia mudar de ideia e consequentemente, de lado.

Felizmente isso acaba não acontecendo e na verdade, mesmo tendo revelado a Bruto que seu pai ainda o classificava como uma “decepção” após ter se tornado o homem mais forte do mundo à época, repete o ciclo com Pátria e acaba com sua expectativa de “família feliz” ao dizer que o líder dos Sete não passa de um “fraco e chorão, carente por atenção”.

Entretanto, mesmo que Soldier Boy não quebre o trato com Bruto, a aliança chega ao fim quando Ryan atinge o “avô” com seu laser quando ele, Bruto e Maeve – sim, Maeve está viva e bem, mas não por muito tempo – atacam Pátria na tentativa de matá-lo, mas vamos por partes.

O episódio se inicia com Pátria indo até Ryan como dissemos acima e leva o garoto, que até então estava sob os cuidados da “Tia Grace”, consigo. Na Vought, a campanha de Luz-Estrela na internet surte efeito e milhares de pessoas, incluindo os seguidores de Pátria, se reúnem em frente a torre em protesto tanto pedindo a libertação de Maeve, quanto acusando Luz-Estrela como mentirosa. Durante o protesto uma das líderes do movimento que pede a libertação de Maeve declara que um mandado foi expedido para que se faça uma busca na torre, fato que faz Ashley e Profundo decidirem por remover a super do local e para isso, soltam um gás sedativo em sua cela. Nesta cena Ashley se desculpa com Maeve e aqui já podemos ver um pequeno relance de empatia por parte da personagem, que se revelará um pouco maior após ser humilhada por Pátria durante uma reunião entre ela, Profundo, Pátria e Trem Bala.

Black Noir retorna á torre e se encontra com Pátria. O Capitão o questiona sobre Soldier Boy e sobre a paternidade. Considerando-o seu melhor amigo, Pátria se descontrola quando Noir revela que durante todo o tempo em que estiveram juntos, ele sabia tanto que Soldier Boy estava vivo como que ele era seu pai e num único golpe, tira a vida de Noir – e suas entranhas para fora também.

Seguindo para a reunião com o que sobrou do que um dia foram os Sete, Pátria faz questão de expor as fraquezas de cada um dos presentes: a Ashley, ordena que tire a peruca; a Profundo, além de revelar a estranhíssima relação dele com polvos, ordena algo em segredo que o faz questionar, mas por apenas um segundo, antes de acatar a ordem como já era previsto que faria; a Trem Bala, Pátria revela que sabe que foi ele o responsável pela morte do Falcão Azul questionando como o super pôde matar um dos “seus”.

Apesar de, até aqui, Trem Bala ter agido sempre motivado por puro egoísmo, precisamos observar que há neste momento um detalhe importante que pode ser um dos ganchos a ser usado na próxima temporada. Pátria havia acabado de tirar a vida de Black Noir, levou consigo o capacete dele até a reunião e disse, sem cerimônias, que havia assassinado quem até ali havia sido seu melhor amigo, uma hipocrisia que não passa despercebida por Trem Bala, que olha de relance para o capacete na mesa ao lado de Pátria logo após ouvir dele sua suposta indignação por Trem Bala ter matado “um dos seus” a sangue frio.

Lembrando que Trem Bala também tirou a vida da própria namorada a pedido de Pátria. Seria esta, enfim, a gota no copo d’água para a redenção verdadeira de Trem Bala que, além de ver o irmão gravemente ferido e perdendo o movimento das pernas, agora foi expulso por ele da sua vida pelo que fez com Falcão Azul?

Ainda durante esta reunião Pátria é comunicado que Maeve precisou ser retirada da torre devido ao mandado de busca. Como já mencionado, a super deixa a instalação sedada e amarrada à maca dentro de um carro forte, mas o gás não dura tempo o suficiente para que o carro chegue ao destino e Maeve acorda, se liberta das amarras, facilmente “lida” com a segurança e procura abrigo, chegando até o apartamento de Leitinho, onde encontra Kimiko, Francês, que a esta altura já conseguiu o elemento químico que pode deter Soldier Boy, Luz-Estrela e Hughie, que estava a caminho da torre junto com Bruto e Soldier Boy, mas é nocauteado e trancado no banheiro de um posto de gasolina no caminho pelo parceiro para que não tome a nova dose do V temporário, mas não antes de ouvir dele que ele era mesmo a “imagem perfeita de Lenny”.

O grupo entra em uma discussão sobre o embate na torre dos Sete e juntos, partem para o escritório dos The Boys para encontrarem Bruto e Soldier Boy. Lá, tentam convencer a dupla a não atacar Pátria, visto que o local está cheio de funcionários e civis, mas a discussão perde força quando Maeve atira o elemento químico pela janela e se une a Bruto e Soldier Boy dizendo que Pátria precisa morrer. Bruto então tranca o grupo em um cofre, mas nem isso consegue fazer Hughie desistir de “salvá-lo”, pois segundo ele, anda existe humanidade “bem, bem, bem lá no fundo” de Bruto.

Maeve parte ao lado de Soldier Boy e Bruto rumo á torre e a heroína, que nesta temporada pareceu muito apagada, distante e sem momentos de protagonismo, cresce imensamente em tela. A cena do embate entre ela e Pátria é eletrizante e nos mostra toda a potência da força da super, além do resultado de todo aquele treinamento ao qual ela se dedicou. Como fã da personagem, cada soco que ela acertava me trazia uma sensação de satisfação diferente e me doeu particularmente vê-la perder um olho nesta luta. Mas nada me preparou para o que viria após o embate descrito lá no início.

Maeve se sacrifica pelo grupo e prova ser uma verdadeira heroína. Foto: Reprodução/YouTube.
Maeve se sacrifica pelo grupo e prova ser uma verdadeira heroína. Foto: Reprodução/YouTube.
Maeve se sacrifica pelo grupo e prova ser uma verdadeira heroína. Foto: Reprodução/YouTube.

Depois de imobilizarem Soldier Boy, e finalmente Luz-Estrela tem seu grande momento nisso (com um fundinho de crédito de Hughie que da sala de controle aumenta as luzes do lugar) quando absorve toda a luminosidade do estúdio da Vought e consegue derrubar Soldier Boy, que já havia machucado Ryan, Maeve, Kimiko e Leitinho, Maeve se sacrifica ao pular pela janela abraçada ao veterano, que explode junto com ela no ar. Outro detalhe que deve ser observado pois com certeza será desenvolvido na próxima temporada é que Luz-Estrela aparentemente aprendeu que pode voar. Ao absorver toda a luz, seus poderes se intensificam de tal forma que a super chega a levitar e talvez esta seja a deixa de que ela precisava para entender a completa extensão deles. Meu palpite aqui é que será ela quem, no fim, conseguirá derrotar Pátria, mas este é só um palpite.

Passado o choque do sacrifício de Maeve, que ganha “homenagens” da Vought em comerciais televisivos, mais um choque nos atinge ao descobrirmos que nem ela e nem Soldier Boy morreram. O super, que inspirou o composto químico preparado por Francês no laboratório da Vought – em uma cena engraçadíssima onde Kimiko mata vários seguranças ao som de “Maniac” de Michael Sembello – é capturado e preso novamente em uma câmara criogênica que desta vez, está sob cuidados de Grace Mallory, o que nos deixa a dúvida: Soldier Boy pode voltar?

Já Maeve, agora uma humana sem poderes, é resgatada e levada ao apartamento de Leitinho onde é visitada por Luz-Estrela e junto com Helena decide desaparecer. Antes de deixar o local, Maeve agradece Annie (e faz questão de usar seu nome) por salvá-la ainda naquele primeiro encontro das duas no banheiro da Vought no primeiro dia dela como integrante dos Sete e este, para mim, foi o fechamento perfeito para o arco da personagem, que durante as três temporadas flertou entre seguir inerte a tudo e ser a heroína que Luz-Estrela achava que ela era e abraçar a causa pela qual a agora colega de equipe decidiu lutar. Agora, se lembra da menção à empatia de Ashley lá no início desta análise? Aqui a vemos aparecendo mais uma vez pois ao assistir as imagens das câmeras de segurança que mostravam que Maeve sobreviveu à explosão, Ashley decide por manter o segredo e apagar o arquivo, ajudando mesmo que Maeve não saiba, em sua fuga e libertação da opressão de Pátria.

Mas prepare-se, pois, mesmo após todos estes eventos, a cena final consegue ser a mais impactante de todo o episódio.

Ryan deixa a torre junto com Pátria, escolhendo o “pai” a Bruto, que sente imediatamente os efeitos do uso prolongado do V-24 e acaba por desmaiar e acordar em um hospital, onde fica sabendo que tem entre seis e dezoito meses de vida, apenas. Na cena seguinte, Pátria apresenta o filho aos seus seguidores que continuam em frente a torre em protesto e apesar da aceitação do garoto por parte dos apoiadores do pai, é atingido por um dos manifestantes contrários ao líder dos Sete.

Frente á agressão, Pátria novamente se descontrola e simplesmente explode a cabeça do homem, sem qualquer cerimônia. Um choque - e respingos de sangue e carne - atinge a todos no local, inclusive Ryan, e alguns segundos de silêncio se seguem antes de serem quebrados pelo padrasto de Janine, filha de Leitinho, que segue frequentando manifestações favoráveis ao super e, de forma surpreendente, puxa o coro de celebração ao ato bizarro e violento de Pátria, que percebendo que agora não importa o que faça, ele será adorado por essa parcela da população, gargalha em êxtase – novamente muitos e muitos pontos para Antony Starr e sua impecável atuação.

Os últimos segundos do episódio final nos presenteiam com o prelúdio do que pode ser a trama principal da próxima temporada, com a câmera fechando no rosto de Ryan que parece fazer jus ao ditado que diz que o fruto não cai longe da árvore e levemente sorri, abraçando a natureza vil de seu pai.

“The Boys” fecha este ciclo de forma magistral, sem nenhuma trama esquecida. Até mesmo Victoria Neuman tem seu momento aqui, pois com Profundo cumprindo a ordem de Pátria, ela agora se torna vice-presidente e deve ser mais uma ameaça a ser combatida - fato este mencionado por Bruto em seu retorno ao escritório dos The Boys, quando Annie se desfaz de seu traje e é finalmente aceita como integrante do grupo -, além de Pátria e Ryan. Kripke consegue estruturar sua narrativa de forma brilhante, com coerência durante toda a temporada e já estamos ansiosos pelo que a quarta parte desta que é uma das melhores séries da atualidade, nos reserva.

Sobre o autor

Carol Souza
Carol SouzaAmante do cinema, dos livros e apaixonadíssima pelo bom e velho rock n'roll. Amo escrever e escrevo sobre o que amo. Ativista da causa feminista e bebedora de café profissional. Instagram: @barbooosa.carol
Fale com o autor: [email protected]
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