Análise | 'Mulher-Hulk': Um curto, porém engraçadíssimo - e de fácil identificação para as mulheres - começo
Nova série da Marvel toca em temas como mansplaining e o medo constante do assédio.
"Mulher-Hulk" finalmente estreou no Disney+ e, quebrando a quarta parede logo nos primeiros minutos de seus poucos 30 de duração, mostra que é uma proposta diferente oferecida pela Marvel no seu MCU.
Não dando ouvidos aos "haters" - que sim, já começaram a chorar pelo CGI e pela "lacração" de uma história que se desenvolve nos quadrinhos desde 1980 -, a trama consegue conciliar com bom-humor os eventos que levam a Jennifer Walters de Tatiana Maslany a se transformar em Mulher-Hulk e situações do dia-a-dia de qualquer mulher, seja no trabalho ou na vida secular.
Logo no início os escritores, liderados por Jessica Gao, escancaram o mansplaining que nós, mulheres, sofremos todos os dias, em especial no ambiente de trabalho, além de colocar em tela problemas como o descrédito dado às mulheres quando o colega advogado de Jennifer diz que sua declaração final ao júri teria "muito mais efeito" se fosse dada por ele.
Em outros momentos podemos ver no Bruce Banner/Hulk de Mark Ruffalo o já costumeiro "ciúmes" masculino quando uma mulher "claramente" - palavras de Jennifer - é capaz de enfrentar dificuldades com muito mais facilidade do que um homem. Destaque para o trecho onde Walters exemplifica ao primo que mulheres basicamente vivem com raiva e medo, algo que a Marvel não deixa passar sem dar um exemplo, na cena que particularmente eu gostaria que fosse possível na vida real, quando Jennifer, sozinha à noite, é assediada por três homens em frente a um bar e com medo, se transforma em Mulher-Hulk, ficando maior e mais forte - além de mais ameaçadora - do que o trio que, muito provavelmente (olá, estatísticas!), faria mal a ela.
O escancaramento do mansplaining e da dificuldade masculina em aceitar que uma mulher saiba o que é melhor para ela continua quando Banner se nega a aceitar que sua prima já domina suas transformações e que mesmo sendo uma Hulk agora, deseja focar em sua carreira, que de acordo com ela, há anos vem sendo construída. Seria esta uma referência a como a sociedade lida com uma mulher que não deseja ser mãe, mas sim, deseja crescer profissionalmente? Pessoalmente, eu acho que sim e novamente, me identifico.
As duas únicas baixas deste episódio para mim foram, além da pouca duração, a forma com que Jennifer ganha seus poderes. Acertamos quando dissemos que Jennifer se transformaria em Mulher-Hulk após uma doação de sangue de Banner mas, eu nunca poderia imaginar que algumas gotas milimétricamente derramadas num corte no braço da protagonista seriam suficientes, efetivas e... instantâneas tanto quanto foram. Confesso que a Marvel conseguiu me tirar da imersão na qual a trama me colocou neste instante entretanto, nada que me fizesse perder o interesse.
Por mais leveza que tenha quanto a isso, o MCU está tocando em assuntos importantes e "Mulher-Hulk" faz isso de forma direta, identificável e com humor. E por falar em humor, não desligue sua TV antes da cena pós-crédito! Esta, com certeza, me fez gargalhar pois nada mais importante do que saber se a imagem da "América" é tão "pura" quanto quer se fazer parecer.